Na semana passada vi duas mulheres entrando em um táxi em frente a um prédio de escritórios no centro de Londres. Ambas usavam salto alto e roupas elegantes e estavam lutando com um "flip chart", com suas páginas que se agitavam ao vento. A visão curiosa de um grande bloco de papel com pernas de alumínio me fez sentir saudades dos dias em que as pessoas faziam apresentações escrevendo com canetas hidrocor em grandes folhas de papel.
Eu poderia muito bem ter esquecido desta cena não fosse pelo fato de que no dia seguinte recebi um convite para ingressar em um novo partido político na Suíça, o AntiPowerPoint Party. "Finalmente, faça alguma coisa!", diz seu lema.
Na verdade, venho silenciosamente fazendo isso há anos: recuso-me a aprender como usar esse programa onipresente. Como apresentadora, sou virgem no PowerPoint, mas como membro de uma plateia já fui estuprada por slides mais vezes do que consigo contar.
E o que aprendi com a experiência? É difícil dizer porque minha reação descuidada tem sido apagá-la. Não consigo me lembrar de um único slide dos tantos que já vi. E como já devo ter visto centenas ou milhares deles, uma taxa de memorização de zero parece ser muito ruim.
Isso não significa que nunca tenha presenciado uma boa apresentação de PowerPoint. Mas quando isso acontece, é porque a pessoa que está falando consegue passar uma mensagem apesar do clamor visual distrativo que está atrás dela.
O AntiPowerPoint Party (APPP) tentou calcular os danos econômicos da pasmaceira provocada por todos esses slides e chegou à conclusão que a Europa desperdiça € 110 bilhões por ano fazendo as pessoas ficarem sentadas assistindo essas apresentações chatas. Suspeito que o número real seja ainda pior, uma vez que esses ignoram os efeitos secundários.
O PowerPoint deve ser a maneira menos agradável de se passar o tempo que existe; uma exibição de slides muito longa pode deixar as pessoas amuadas e passivas, sem ânimo para o próprio trabalho. E pior: ela diminui a qualidade da discussão e leva a decisões ruins. O PowerPoint realiza o milagre de tornar as coisas simultaneamente simples demais e complicadas demais. Ele reduz ideias perspicazes a itens marcados, ao mesmo tempo em que encoraja você a encher uma apresentação com dados irrelevantes porque "recortar e colar" é muito fácil.
O APPP espera combater o PowerPoint através de meios pacíficos e quer que muitos jornalistas escrevam artigos como este. Mas, mesmo que muitos façam isso, tenho poucas esperanças de sucesso. O artigo seminal e devastador sobre o assunto, "O PowerPoint é Mau", foi escrito por Edward Tufte em 2002 e publicado na revista "Wired". E o que aconteceu desde então? Nada, exceto que o PowerPoint ficou ainda maior.
Ao reler o artigo, cheguei à conclusão de que Tufte foi um pouco suave com seu alvo. Ele disse que as apresentações de PowerPoint são como "uma apresentação teatral escolar - muito barulhentas, muito lentas e muito simples". Na verdade, elas são muito piores que isso: as peças escolares tendem a ter um charme amador e geralmente há no palco alguém que você ama.
Convencer todo mundo a parar de usar o PowerPoint será muito mais difícil que convencer as pessoas a, digamos, reusar os sacos plásticos. As pessoas se apegam a ele por três razões poderosas. Primeiro, porque todo mundo usa. Segundo, porque é muito mais fácil que escrever uma apresentação adequada, onde você precisa pensar antecipadamente com cuidado sobre o que você vai falar. E terceiro, e mais importante, o PowerPoint acalma os nervos dos palestrantes - ficar diante de uma plateia com as luzes baixas e onde as pessoas seguem caladas olhando o que está escrito na tela não é muito assustador.
Para ter qualquer chance de sucesso, o APPP precisa de uma facção terrorista, que atuaria cortando o fio que conecta o laptop ao projetor. Ou poderia ajudar as pessoas a alterar indevidamente os slides, inserindo alguns aleatórios com os dizeres: "EIS MAIS UM SLIDE IDIOTA", ou exibindo uma fotografia de uma plateia em sono profundo.
Melhor ainda seria uma campanha por uma proibição completa. Num mundo sem a muleta do PowerPoint, as apresentações seriam menores em número e mais curtas - as pessoas seriam desencorajadas pelo nervosismo e pelo trabalho árduo da preparação. Isso poderia até levar as plateias a prestar atenção. A voz humana, especialmente quando conectada a um cérebro que pensa um pouco, e a um corpo que ensaiou um pouco, pode ser uma coisa maravilhosa e memorável.
Dez dias atrás fui a uma peça de teatro em Londres chamada "True Stories Told Live", em que seis pessoas contracenam sem "auxílios visuais". Os assuntos não prometiam - um deles falou por durante dez minutos sobre uma xícara de chá.
Mas eu consigo contar essa história para você agora, o que é muito mais do que eu conseguiria contar sobre uma apresentação em PowerPoint que vi no dia seguinte, sobre mulheres nos conselhos de administração, e da qual me lembro de uma única coisa: um tédio insuportável.
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira