sábado, 31 de dezembro de 2011

Uma lágrima para Daniel Piza

Uma lágrima para fulano. Era com este título que Daniel Piza homenageava grandes nomes da humanidade que nos deixavam.

Hoje é dia de homenageá-lo do mesmo modo. Vai ser difícil começar o domingo sem a coluna cultural dele. Quantos livros, discos e filmes apreciei por causa de suas resenhas...

Eu o tinha como grande amigo, sem nunca te-lo visto pessoalmente. Mas já havíamos trocado alguns e-mails. Coisas da Internet e do mundo moderno.

Descanse em paz, Daniel.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Street Boys, 30 anos depois

Pouca gente deve lembrar dessa música. Tocava o tempo todo nas rádios brasileiras no verão de 1982. Inclusive vieram fazer shows no Brasil. Mas essa banda desapareceu do mapa. Se você procurar, vai encontrar uns trechos do disco Some Folks no YouTube.

O curioso vídeo abaixo mostra 2 dos ex-integrantes do Street Boys tocando provavelmente em algum quintal da Inglaterra (ATUALIZAÇÃO: França!)


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Blog parado

O blog está parado, claro. Razões?

1) Meu filho nasceu. Não há sentimento melhor neste mundo. E o meu tempo agora é dele.

2) Os 140 caracteres do Twitter são suficientes para indicar alguma coisa que achei interessante e que gostaria de compartilhar.

3) Estou escrevendo relatórios técnicos no projeto em que estou trabalhando. A vontade de escrever diminui bastante depois de passar o dia fazendo isto...

Gosto de escrever e não pretendo parar com o blog. Mas, neste momento, não há como publicar muita coisa.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Falta de juízo

Falta de juízo (Hélio Schwartsman, Folha de São Paulo)

SÃO PAULO - Jovens que se metem em encrencas com a lei, como os alunos da USP, até que sabem o que fazem. O problema é que, mesmo reconhecendo as implicações potenciais de seus atos, optam por ir em frente e correr o risco.
A neurociência explica o fenômeno com base no que chama de assincronia do desenvolvimento cerebral.
Trocando em miúdos, a maturação das estruturas ocorre de trás para a frente, de modo que a última região a "ficar pronta" é o córtex pré-frontal, área responsável por planejar o futuro, tomar decisões complexas e controlar a impulsividade, entre outras funções essenciais para a vida em sociedade. O pré-frontal não amadurece antes da terceira década de vida, lá pelos 25 anos.
Isso significa que jovens podem se parecer e até falar como adultos, mas não agem como eles. Comprovam-no as estatísticas de criminalidade, segundo as quais a esmagadora maioria dos delitos é cometida por homens na faixa dos 15 aos 29 anos.
Daí não decorre que jovens sejam inimputáveis. Modelos matemáticos mostram que sociedades só são estáveis quando punem os indivíduos que tentam levar vantagem indevida. Mas, assim como não mandamos crianças para a cadeia, na esperança de que aprendam, não convém aplicar aos arruaceiros da USP o peso máximo da lei. A juventude, afinal, é um estado passageiro, ao fim do qual as pessoas melhoram em termos de comportamento.
O interessante aqui é que as descobertas da neurociência não se limitam à falta de juízo de jovens. Há correlações entre crime e tipo de personalidade e já se observou que certos tipos de demência e até tumores levam as pessoas a violar a lei.
Será que, quanto mais aprendemos sobre o cérebro, menos espaço sobra para a responsabilidade individual? Há neurocientistas, como David Eagleman, que afirmam que avanços nessa área exigirão uma revolução no Direito. Esse é assunto para uma próxima coluna.

sábado, 22 de outubro de 2011

Placa para Tenório

(texto publicado na Folha de São Paulo)

Placa para Tenório

Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - No dia 18 de março de 1976, o pianista brasileiro Francisco Tenório Jr., 33, estava em Buenos Aires para uma temporada no Teatro Rex com seus patrícios Vinicius de Moraes e Toquinho. Naquela noite, saiu do hotel Normandie, onde estavam hospedados, e deixou um bilhete: "Vou comprar cigarros e um remédio. Volto já". Não voltou -nunca mais.
Fora confundido com um militante procurado pela ditadura argentina e levado preso. Por falar bem espanhol e com sotaque portenho, não acreditaram que fosse brasileiro, músico e inocente. Passaram a torturá-lo, com a colaboração, a partir do quinto dia, de agentes brasileiros da Operação Condor, braço internacional das ditaduras argentina, brasileira, chilena e uruguaia.
Nove dias depois, seus algozes se convenceram de que tinham se enganado. Mas, já então, Tenório estava cruelmente machucado. Pior: vira o rosto deles. Não podiam devolvê-lo à rua. O jeito era matá-lo, o que fizeram com um tiro, no dia 27. Dali Tenório foi dado como "desaparecido", e o Brasil nunca se empenhou em elucidar o fim de um de seus filhos mais talentosos -autor, em 1964, aos 21 anos, do grande disco instrumental "Embalo".
Os detalhes gravíssimos sobre a morte de Tenório só começaram a aparecer dez anos depois, em 1986, e mesmo assim porque um membro da inteligência argentina resolveu contar. Pois, agora, os argentinos, que não estão varrendo a sua ditadura para debaixo do tapete, nos darão em breve nova lição.
No dia 16 de novembro, às 14 h, a cidade de Buenos Aires, por iniciativa do deputado portenho Raul Puy, homenageará Tenório com uma placa na fachada do hotel Normandie, na rua Rodríguez Peña, 320, de onde ele saiu para morrer. Ela dirá: "Aqui se hospedou este brilhante músico brasileiro, vítima da ditadura militar argentina".

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Revista de Estudos Atrasados

Ótimo texto publicado na Folha de hoje.


Revista de Estudos Atrasados

LEANDRO NARLOCH E DUDA TEIXEIRA

Não é correto que dinheiro público ajude a mascarar a longa ditadura de Cuba, como faz a recente edição da revista "Estudos Avançados"

A expressão "estudos avançados" deveria designar discussões científicas de ponta, novas interpretações históricas e atualizações a teorias consagradas. A revista "Estudos Avançados", da USP, costuma publicar artigos com esse perfil desde que foi criada, em 1987.
Não é o caso do número 72, nas bancas neste mês. O "Dossiê Cuba", que compõe a maior parte da edição, apresenta estudos que são tudo, menos avançados: artigos sem nenhuma intenção científica e peças de propaganda escritas por pessoas ligadas ao governo cubano.
São ao todo 15 artigos de pesquisadores e jornalistas cubanos, e mais dois de brasileiros. Nenhum dos autores é crítico de um regime que, todos hão de concordar, desperta opiniões divergentes.
O texto mais emblemático é "A democracia em Cuba", do ensaísta Julio César Guanche.
O autor afirma que a revolução de 1959 consagrou um "novo conceito de democracia, com o intuito de garantir o acesso à vida política ativa de grandes setores da população" e defende a manutenção do que chama de "unidade revolucionária" -a proibição imposta aos cubanos de fazer reuniões e formar partidos, jornais ou sindicatos.
Um trecho de "Ciência em Cuba: uma aposta pela soberania" lembra um vídeo institucional: "Inaugurada em Havana pelo próprio presidente Fidel Castro, a entidade conhecida pela sigla CIGB [Centro de engenharia genética e biotécnica] contribuiu de maneira excepcional para colocar Cuba entre os líderes mundiais de tão importante setor".
Diversos textos seguem o padrão de citar Fidel no início, mencionar a situação de Cuba antes de 1959 e descrever conquistas da revolução.
O artigo "A educação em Cuba entre 1959 e 2010" não traz discussões sobre métodos de ensino ou experiências mais ou menos eficientes. Em vez disso, o autor reproduz diversas falas de Fidel Castro, incluindo até mesmo a tautologia "é necessário mudar tudo o que deva ser mudado".
Do mesmo modo, "Um olhar para a saúde pública cubana" não tem problematização ou comparação de dados, como é praxe nos artigos da revista da USP. O autor se destina apenas a destacar supostas conquistas médicas obtidas em Cuba por causa da "vontade política do governo revolucionário".
Não há menção à falta de remédios ou aos subornos exigidos por médicos, queixas tão frequentes entre cubanos menos comprometidos.
Quem assina o texto sobre a saúde de Cuba é o jornalista José A. de la Osa, que ensinava censura, ou melhor, ministrava a disciplina de "política informativa" da Universidade de Havana.
De acordo com ex-alunos da universidade, Osa ensinava quais eram os temas que não poderiam figurar nos jornais oficiais, como fracassos econômicos, opiniões de dissidentes e crimes chocantes.
A edição é ilustrada com fotos fornecidas pelo governo cubano. As imagens das páginas 47 e 76 são relíquias da propaganda comunista.
Trata-se de reconstituições, à la Stálin, de episódios do movimento revolucionário.
Deve ser direito de qualquer pessoa manifestar a opinião que desejar, inclusive as mais ultrapassadas. Mas se essa manifestação envolve dinheiro público, então é preciso acatar opiniões divergentes e realizar apenas as tarefas para as quais os recursos se destinam.
A revista "Estudos Avançados" funciona com fundos do governo federal e da USP, que por sua vez ganha 5% de todo o ICMS de São Paulo. São cerca de R$ 3 bilhões por ano pagos por empresas capitalistas e por cidadãos de todas as classes sociais, que vivem numa democracia com liberdade de pensamento.
Não é justo que parte desse dinheiro ajude a mascarar a mais longa ditadura do mundo atual.

LEANDRO NARLOCH, 33, e DUDA TEIXEIRA, 36, são jornalistas e autores do "Guia Politicamente Incorreto da América Latina" (editora LeYa).

sábado, 20 de agosto de 2011

Bellini e a menina (Ruy Castro)

Texto do Ruy Castro na Folha de São Paulo de hoje.

Bellini e a menina

RIO DE JANEIRO - Em julho de 1958, uma menina de 10 anos, sofrendo de poliomielite desde bebê, fez sua primeira cirurgia na perna. Enquanto convalescia, montou um álbum de recortes sobre seu ídolo, o homem mais bonito do Brasil, o xodó de todas as mulheres, crianças e até avós: Bellini, zagueiro do Vasco e capitão da seleção brasileira recém-campeã do mundo na Suécia. Certo dia, a porta da casa onde ela morava com sua família no Leblon se abriu, e uma visita de surpresa disse: "Boa-noite". Era Bellini.
Como? Simples. Alguém que conhecia alguém que conhecia Bellini falou-lhe da menina. Bellini tinha 28 anos e não chegava para as encomendas. Quando não estava treinando ou jogando pelo Vasco, tinha de viajar com a Copa do Mundo pelo país e levantar o caneco em festas e banquetes. Mas ele achou tempo para ver a garota, que ficou muda de emoção enquanto ele lhe contava histórias da Suécia.
Dois anos depois, em 1960, a menina encontrou Bellini na rua, em Copacabana. Ele a reconheceu e ela lhe disse que, no dia seguinte, iria fazer sua segunda (e última) cirurgia. Bellini se interessou. Dali a dias, ligou para o hospital para perguntar como estava. Ao saber que brevemente ela iria para casa, deu um tempinho e foi visitá-la de novo, desta vez levando bombons. Era assim que ele era.
Passaram-se anos. Celia se tornou a violonista, arranjadora e maestrina Celia Vaz, uma das musicistas mais completas do Brasil e com sólida reputação no Japão, na Europa e nos EUA, muito maior do que em seu país.
Sábado último, após intermediação de amigos, Celia foi a São Paulo para encontrar Bellini e sua esposa Giselda, dar-lhe um beijo e retribuir os bombons. O intervalo de mais de 50 anos -o próprio Bellini tem hoje 81- não impediu que a emoção desandasse e as lágrimas de todos descessem pelos rostos e sobre o estojo da Kopenhagen.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O mundo todo deveria se unir contra o PowerPoint

(publicado no Valor Econômico de 25/07/2011)


Lucy Kellaway


Na semana passada vi duas mulheres entrando em um táxi em frente a um prédio de escritórios no centro de Londres. Ambas usavam salto alto e roupas elegantes e estavam lutando com um "flip chart", com suas páginas que se agitavam ao vento. A visão curiosa de um grande bloco de papel com pernas de alumínio me fez sentir saudades dos dias em que as pessoas faziam apresentações escrevendo com canetas hidrocor em grandes folhas de papel.

Eu poderia muito bem ter esquecido desta cena não fosse pelo fato de que no dia seguinte recebi um convite para ingressar em um novo partido político na Suíça, o AntiPowerPoint Party. "Finalmente, faça alguma coisa!", diz seu lema.

Na verdade, venho silenciosamente fazendo isso há anos: recuso-me a aprender como usar esse programa onipresente. Como apresentadora, sou virgem no PowerPoint, mas como membro de uma plateia já fui estuprada por slides mais vezes do que consigo contar.

E o que aprendi com a experiência? É difícil dizer porque minha reação descuidada tem sido apagá-la. Não consigo me lembrar de um único slide dos tantos que já vi. E como já devo ter visto centenas ou milhares deles, uma taxa de memorização de zero parece ser muito ruim.

Isso não significa que nunca tenha presenciado uma boa apresentação de PowerPoint. Mas quando isso acontece, é porque a pessoa que está falando consegue passar uma mensagem apesar do clamor visual distrativo que está atrás dela.

O AntiPowerPoint Party (APPP) tentou calcular os danos econômicos da pasmaceira provocada por todos esses slides e chegou à conclusão que a Europa desperdiça € 110 bilhões por ano fazendo as pessoas ficarem sentadas assistindo essas apresentações chatas. Suspeito que o número real seja ainda pior, uma vez que esses ignoram os efeitos secundários.

O PowerPoint deve ser a maneira menos agradável de se passar o tempo que existe; uma exibição de slides muito longa pode deixar as pessoas amuadas e passivas, sem ânimo para o próprio trabalho. E pior: ela diminui a qualidade da discussão e leva a decisões ruins. O PowerPoint realiza o milagre de tornar as coisas simultaneamente simples demais e complicadas demais. Ele reduz ideias perspicazes a itens marcados, ao mesmo tempo em que encoraja você a encher uma apresentação com dados irrelevantes porque "recortar e colar" é muito fácil.

O APPP espera combater o PowerPoint através de meios pacíficos e quer que muitos jornalistas escrevam artigos como este. Mas, mesmo que muitos façam isso, tenho poucas esperanças de sucesso. O artigo seminal e devastador sobre o assunto, "O PowerPoint é Mau", foi escrito por Edward Tufte em 2002 e publicado na revista "Wired". E o que aconteceu desde então? Nada, exceto que o PowerPoint ficou ainda maior.

Ao reler o artigo, cheguei à conclusão de que Tufte foi um pouco suave com seu alvo. Ele disse que as apresentações de PowerPoint são como "uma apresentação teatral escolar - muito barulhentas, muito lentas e muito simples". Na verdade, elas são muito piores que isso: as peças escolares tendem a ter um charme amador e geralmente há no palco alguém que você ama.

Convencer todo mundo a parar de usar o PowerPoint será muito mais difícil que convencer as pessoas a, digamos, reusar os sacos plásticos. As pessoas se apegam a ele por três razões poderosas. Primeiro, porque todo mundo usa. Segundo, porque é muito mais fácil que escrever uma apresentação adequada, onde você precisa pensar antecipadamente com cuidado sobre o que você vai falar. E terceiro, e mais importante, o PowerPoint acalma os nervos dos palestrantes - ficar diante de uma plateia com as luzes baixas e onde as pessoas seguem caladas olhando o que está escrito na tela não é muito assustador.

Para ter qualquer chance de sucesso, o APPP precisa de uma facção terrorista, que atuaria cortando o fio que conecta o laptop ao projetor. Ou poderia ajudar as pessoas a alterar indevidamente os slides, inserindo alguns aleatórios com os dizeres: "EIS MAIS UM SLIDE IDIOTA", ou exibindo uma fotografia de uma plateia em sono profundo.

Melhor ainda seria uma campanha por uma proibição completa. Num mundo sem a muleta do PowerPoint, as apresentações seriam menores em número e mais curtas - as pessoas seriam desencorajadas pelo nervosismo e pelo trabalho árduo da preparação. Isso poderia até levar as plateias a prestar atenção. A voz humana, especialmente quando conectada a um cérebro que pensa um pouco, e a um corpo que ensaiou um pouco, pode ser uma coisa maravilhosa e memorável.

Dez dias atrás fui a uma peça de teatro em Londres chamada "True Stories Told Live", em que seis pessoas contracenam sem "auxílios visuais". Os assuntos não prometiam - um deles falou por durante dez minutos sobre uma xícara de chá.

Mas eu consigo contar essa história para você agora, o que é muito mais do que eu conseguiria contar sobre uma apresentação em PowerPoint que vi no dia seguinte, sobre mulheres nos conselhos de administração, e da qual me lembro de uma única coisa: um tédio insuportável.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Twitter cansa

Qualquer hora dessas, vou parar de usar o Twitter. É irritante ter que se adequar aos 140 caracteres. Você escreve o que pensa, e depois é obrigado a subtrair palavras nem tão desnecessárias assim. E o estilo fica ruim. Isso porque tento escrever corretamente naquela ferramenta. A maioria só o faz no conhecido "miguxês".

Escrever livremente é muito melhor.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

E o lobo virou cordeiro

No texto abaixo, publicado na Folha, Ferreira Gullar faz análise simples e perfeita da situação política e econômica brasileira.


FERREIRA GULLAR

E o lobo virou cordeiro

Se Lula aderiu às ideias do adversário, foi porque estas correspondiam às necessidades do país

O LEITOR sabe muito bem que não sou nem pretendo ser cientista político, mas apenas alguém que, como qualquer cidadão, acompanha com atenção o que ocorre em nossa vida política e procura, tanto quanto possível, compreendê-la. Mas não o esgoto, dou palpites. Não obstante, pelos muitos anos que tenho de observar, ler e refletir sobre os fatos políticos, creio às vezes perceber algo que ainda não foi formulado claramente pelos analistas profissionais. Mas, também, pode ocorrer que me engane, claro. Ainda assim, me atrevo a dizê-lo, correndo o risco de não ir além do óbvio. É o que farei agora. Mas, antes, advirto os petistas de que, se lerem esta crônica até o fim, podem até concordar comigo. Começo pelo que todo mundo sabe e que Lula e sua turma tudo fazem para ocultar: sem o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Proer e outras medidas tomadas por Itamar e Fernando Henrique, o êxito do governo Lula teria sido simplesmente impossível. Não se trata, aqui, de uma simples opinião, mas de um fato incontestável de que nenhum economista ou cientista político que veja os fatos com isenção discordará. Todos sabemos, o Plano Real foi o que pôs fim à inflação galopante que arrasava os salários e a economia brasileira como um todo. A criação do Real e os procedimentos que possibilitaram uma atitude disciplinadora em face dos problemas estruturais de nossa economia assinalaram o início de uma nova fase em nossa história. Em seguida, a Lei de Responsabilidade Fiscal liquidou com uma das principais fontes do processo inflacionário: os gastos sem controle promovidos sobretudo pelos governos estaduais. Essa lei, que condiciona as despesas públicas à arrecadação efetivamente conseguida, só foi posta em prática porque Lula e o PT não lograram impedir sua aprovação pelo Congresso. Foram derrotados na Câmara, depois no Senado, mas não desistiram e entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal para sustá-la. A campanha do PT contra o Plano Real foi igualmente feroz, chegando Lula a afirmar que se tratava de um lance eleitoral demagógico, feito para não durar mais que três meses. O Proer, que evitou uma crise bancária de consequências imprevisíveis, contou igualmente com a furiosa oposição dos petistas. A conclusão inevitável é que, se dependesse deles, nenhuma dessas medidas teria sido adotada e a economia brasileira não teria alcançado o equilíbrio e a consistência que permitiram ao governo Lula realizar o que realizou. Cabe agora perguntar: não foi bom para o país que o governo Lula tenha dado certo? Claro que foi. Então, não tem sentido criticá-lo por ter feito o que era certo fazer. Ideologia é uma coisa, realidade é outra. Quando Lula se deu conta de que sua pregação radical não o levaria ao poder, mudou de tom e de mensagem, assumindo uma posição moderada que lhe possibilitou ganhar as eleições. À frente do governo, adotou tudo o que seu adversário implantara, desde os programas assistenciais até a política econômica “neoliberal”, imprimindo àqueles um colorido populista e à política externa um cunho antiamericano para salvar a face. Com esses toques, que chegavam aos ouvidos do povão ampliados pela retórica de Lula, construiu-se a imagem de um governo que contou com a simpatia popular e ganhou a confiança do empresariado. Nada melhor para o capital do que um país sem greves nem crises econômicas. Uma visão simplista atribuiria tudo isso ao carisma e à sagacidade política de Lula quando, na verdade, se trata de coisa bem mais complexa, conforme entendo. Se Lula mudou de retórica e de visão social, aderindo às ideias do adversário, foi porque a visão e os projetos deste é que correspondiam às necessidades reais do país. As mudanças que ele introduziu, por serem necessárias, tornaram-se irreversíveis. E, assim, o PT virou PSDB, como um lobo que se metesse em pele de cordeiro. Com a diferença de que, se o lobo da fábula continuou lobo, o lobo Lula virou cordeiro mesmo. E Dilma, mais ainda, se não quiser fracassar. Daí por que o PSDB tem dificuldade de fazer oposição, pois seria como opor-se a si mesmo.
E também por isso Serra defendeu um salário mínimo de R$ 600, como se fosse possível cordeiro virar lobo, de repente.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O fim dos Correios

O governo petista aparelhou os Correios. Isso não é novidade para ninguém. Já foram muitos os escândalos relatados pela imprensa.

Agora os sintomas estão aparecendo. Todos os apadrinhados incluídos na empresa, que não tinham a mínima razão técnica de estar ali, estão atrapalhando o funcionamento da instituição.

Por exemplo: comprei um livro na Estante Virtual. Optei pela entrega normal, já que o livro viria do Rio de Janeiro, grande centro urbano, para Campinas, outro grande centro urbano. Já faz 11 dias que o livro foi postado, e entro diariamente no site de rastreamento para acompanhar o que está acontecendo. Aliás, não está acontecendo nada. O livro empacou, depois de ficar 5 dias parado na Cidade Maravilhosa. Um vexame.

Como somos um país de bananas, não permitimos a entrada de empresas privadas neste setor. Poderíamos ter a Fedex aqui, cobrando valores menores e entregando mais rápido, visando apenas o malvado lucro. Mas temos que aturar um monopólio estatal ineficiente, repleto de amigos do poder.

Esse é o triste fim de uma empresa chamada Correios.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O início do governo Dilma

O Carnaval só acabou agora. Ainda estamos no início do governo Dilma. Mas algumas coisas estão me chamando a atenção.

Dilma criticou o desrespeito aos direitos humanos no Irã, coisa que Lula e Celso Amorim não fizeram em 8 anos. Anunciou que irá privatizar os aeroportos brasileiros. E está discreta, ao contrário de Lula, que aparecia diariamente na TV dizendo absurdos que fariam qualquer pessoa bem informada corar de vergonha.

Às vezes, um detalhe mínimo nos diz muita coisa. Esse é o símbolo utilizado pelo atual governo:





O símbolo anterior tinha um vermelho que incomodava. As cores do país recebiam a cor do partido que queria manter seu poder a qualquer custo. Isso mostra uma predisposição para corrigir os absurdos do governo anterior. Espero que isto continue. Ainda estou bem desconfiado.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Torcida política

O que mais me impressiona nos posicionamentos políticos é a ausência total de coerência nos mesmos. Aqueles que criticam o candidato A por ter feito X não criticam quando seu candidato B faz o mesmo. É aquele sentimento de torcida no futebol.

Mas não é a mesma coisa. O dinheiro dos seus impostos está sendo usado. As pessoas deveriam pensar mais e parar de defender o seu candidato pelos erros medonhos que pioram nosso país.